domingo, 10 de maio de 2009

O maior nenúfar do mundo no Jardim Botânico de Coimbra


A Rainha dos Nenúfares
De entre as plantas interessantes do mundo, Victoria é, seguramente, uma planta aquática muito apreciada, não só pela dimensão e morfologia das suas folhas, como pela beleza e peculariedade das suas flores. O seu nome, em homenagem à Rainha Victoria, indica que a Victoria é, na natureza, a "rainha-dos-nenúfares". Da família das Nymphaeaceae são duas as espécies herbáceas, gigantes, aquáticas: Victoria amazonica (= V. regia) e Victoria cruziana. Tanto V. regia como a V. cruziana só se encontram na América do Sul na zona equatorial. A civilização ocidental conheceu pela primeira vez os «nenúfares gigantes» em 1803, quando o botânico Haenke os descobriu na Bolívia. Outros exploradores europeus encontraram-na, posteriormente, nos rios do Brasil, Argentina e Guyanas. Provavelmente Victoria regia foi um nome atribuído por Lindlay em 1838 e V. cruziana por D'Orbiny, em 1840, em honra do general Santa Cruz da Bolívia. J. Paxton, arquitecto inglês que projectou o famoso Palácio de Cristal em Londres, referiu que todo o mérito da sua obra deveria, na realidade, reverter para a mãe-natureza que primeiramente utilizou uma espantosa estrutura de resistência como a que se pode observar nas folhasflutuantes dos frágeis nenúfares. Diz-se que as mães-índias, na Amazónia, colocavam os seus bebés nas folhas, como se estivessem num berço.
Este nenúfar, de "habitat" tropical, exige condições de cultura muito especiais. Na estufa do Jardim Botânico de Coimbra é anualmente semeado em Fevereiro/Março, num amplo lago aquecido. Este foi propositadamente construído para o efeito e ocupa a parte central da estufa, onde a temperatura ambiente deve ser mantida entre os 22-26ºC. Em especial, a temperatura da água não pode sofrer oscilações e deve manter-se nos 24ºC. As plantas resultantes da germinação de cerca de uma dúzia de sementes são, normalmente, sujeitas a dois processos de monda. É feita a selecção das plantas mais vigorosas ficando, no final, apenas aquela que apresentar características que ofereçam melhores garantias de um bom desenvolvimento. No Verão (Junho), quando aumenta o calor no exterior e as temperaturas tendem a manter-se elevadas, desliga-se o aquecimento da estufa, não ficando mais sujeita a nenhum controlo artificial. O nenúfar apresenta polimorfismo foliar: as primeiras folhas são elípticas e fendidas, as seguintes inteiras, depois circulares e a partir da formação da 4ª folha definitiva, apresenta um rebordo em toda a periferia foliar, lembrando uma caixa de Petri. Apresenta espinhos na página inferior, para protecção, e as folhas são muito grandes, podendo atingir 2 metros de diâmetro e suportar o peso equivalente ao de uma criança pequena (20-30kg), sobre a superfície finíssima, constituindo este um admirável exemplo "natural" de engenharia. A primeira folha surge, normalmente, decorrido um mês após a sementeira e a flor no mês seguinte ao desenvolvimento das folhas definitivas (Abril/Maio). A flor é grande e perfumada e mantém-se apenas durante 48 horas.No primeiro dia é de cor branca passando a rosa-escuro no segundo dia, desabrochando, apenas, com pouca luz. Na realidade, existe uma estreita relação entre a quantidade de luz e o desabrochar, que se realiza, normalmente, ao entardecer, coincidindo com o declínio de intensidade luminosa. O processo de abertura de todos os botões florais é sincrónico e demora cerca de 20 minutos na natureza e 60 a 90 minutos em estufa. Os botões que estão acima da superfície da água pela manhã abrem, no geral, ao final da tarde desse dia. Algumas horas antes, as flores mostram sinais de que vão desabrochar exudando um perfume que serve para atrair os insectos polinizadores. Uma vez fertilizada, a flor fecha e mergulha e o fruto amadurece na água, cerca de seis semanas depois da floração. No final do Verão (Setembro/Outubro), as folhas iniciam o processo de senescência e o ciclo de vida do nenúfar vai, progressivamente, chegando ao fim.No lago, quando vazio, ficam inúmeras sementes a utilizar na sementeira do ano seguinte. Estes nenúfares, deste modo, comportam-se como plantas anuais, embora no seu "habitat" natural a fase de floração e de produção de novas folhas persista por muito tempo, dado que as condições ambientais naturais, de calor e humidade, estão presentes durante todo o ano. Em todo o mundo foram construídas estufas especificamente para a exibição da Victoria. Nos Jardins Botânicos de Portugal apenas no de Coimbra é possível apreciar este nenúfar, que há longa data aqui completa o seu ciclo de vida, o que permite que as sementes sejam também incluídas no Index Seminum (catálogo de sementes) do Jardim Botânico
Victoria amazonica (Poepp.) Sowerby
Sinónimo de V.regia é originária da região equatorial da bacia do rio Amazonas, onde dá folhas e flores todo o ano (vários ciclos de vida / ano). Para a sua cultura, a temperatura da água deve estabilizar entre 29-32ºC. O rebordo foliar, que atinge os 15 cm de altura, apresenta uma coloração avermelhada na parte exterior, quando as folhas atingem o estado adulto. As sementes, até 8 x 6 mm, são elipsoidais.

http://www.uc.pt/jardimbotanico/Nenufar

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